Fechamento de bloco do HMAL: denúncia-crime será encaminhada pelo CES


Depois de sete meses do fechamento abrupto do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), já é possível somar casos gravíssimos de desassistência que levam a sequelas irreversíveis, perda de membros e intercorrência de infecção devido a cirurgias adiadas. Esta foi uma das constatações relatadas no debate público realizado na última segunda-feira, 7 de julho, pelo Conselho Estadual de Saúde (CES/MG) com representantes do HMAL, usuários, trabalhadores e Poder Legislativo. Para representar o ponto de vista da gestão, participou do debate público o assessor do gabinete da presidência da Fhemig, Paulo Mendes.

Servidores denunciam desassistência


Segundo os números coletados pelos servidores da Instituição, houve queda na produção cirúrgica, aumento nas transferências para hospitais externos, descontinuidade no atendimento, aumento nos custos e manipulação dos dados pela gestão. Sem a transparência nas informações da gestão, os servidores coletaram os dados a partir da escala de cirurgia do dia e dos prontuários do Hospital João XXIII (HJXIII). A queda nos números é alarmante em todas as áreas: trauma, ombro, pé e tornozelo, fixador externo/ilizarov, membros superiores, joelho, trauma (ilizarov), mão, quadril e bucomaxilo. As causas para o cancelamento das cirurgias são a falta de salas, falta de anestesistas e falta de técnicos de enfermagem.

A diretora clínica do HMAL, Andrea Fontenelle, denunciou mais uma vez a falta de planejamento do governo para o fechamento do bloco cirúrgico. Para ela, existe uma total desconexão do que se vê na planilha da gestão e o que acontece no hospital.

“Não houve nesse tempo uma organização adequada. Não se planejou transferência de ambulatório, não se planejou novas estratégias. O que se faz em 12 salas cirúrgicas, não se faz em 7. Não existe matemática que consiga reduzir isso. E o HJXXII já mostrou que opera na capacidade máxima. São mil pacientes, mil cirurgias em um mês. E isso vem se mantendo desde maio do ano passado, com pequenas oscilações”, aponta.

Denúncia-crime


Com base no debate público promovido pelo Conselho, servidores e usuários disseram que reunirão os descasos promovidos no Hospital João XXIII a partir do fechamento da unidade para apresentar denúncia-crime e buscar responsabilizar a gestão por conduzir uma política de desassistência. Segundo os dados, são 4 salas de bloco cirúrgico fechadas enquanto mais de 6000 pessoas esperam por uma cirurgia.
O CES/MG receberá a denúncia-crime e a encaminhará para todos os órgãos de controle, sendo eles o Tribunal de Justiça (TJMG), o Tribunal de Contas (TCE), Ministério Público (MPMG), dentre outros.
O 2º Secretário do CES/MG e diretor do Sind-Saúde/MG, Renato Barros, afirmou que “estão ferindo mais uma vez a nossa Constituição. Tem que haver uma responsabilização de alguém sobre as sequelas que estão sendo relatadas, pacientes estão ficando sequelados e alguém tem que ser criminalizado”.


A presidenta do CES, Lourdes Machado, pediu que a mediação do Legislativo possa aumentar e pautar um esforço maior para acabar com as ameaças de privatização no Estado. Lourdes lembrou que “o HMAL é nosso baluarte da luta contra a privatização de diversos hospitais regionais, que o governo vem buscando alcançar”.
A gestora referiu-se diretamente aos representantes do Poder Legislativo presentes à reunião.

Poder Legislativo


Acompanharam o debate representantes dos mandatos da deputada Beatriz Cerqueira, deputada Bella Gonçalves, vereador Bruno Pedralva e deputada Ana Paula Siqueira. O deputado estadual Lucas Lasmar esteve presente e questionou a manipulação dos dados pela gestão. Para ele, colocar os pacientes da forma que foram transferidos para o HJXXIII é tentar colocar “uma carreta dentro de um caminhão”.

“E pior, o Estado apresenta números que contradiz a própria fala. Em julho de 2024, o HMAL e o HJXXIII operaram 1.350 cirurgias, e hoje, na apresentação até abril, operaram 1.001 por mês. E o Estado fala em aumento a todo momento. Será que eles faltaram nas aulas de matemática?”, questionou.

Cancelamento de cirurgias


O deputado também questionou a narrativa de melhoria com o cancelamento das cirurgias. “A falta de assistência às pessoas é de preocupar. Têm pessoas que estão há mais de oito, nove dias, com fraturas expostas, com adiamento duas, três vezes das cirurgias.”

Aumento de transferência para hospitais externos

Dados apresentados pela nutricionista do HMAL, Maria Gonçalves Soares, apontam:


Em 2024, havia mês com nenhuma transferência para outros hospitais fora da rede Fhemig. Agora, mesmo com 20 leitos funcionando, houve quase cem transferências externas no período de janeiro a maio de 2025, aumentando o custo de internação. O mesmo aumento ocorreu no Hospital João XXIII: de 534 no mesmo período de 2024 para 660 pacientes transferidos para outros hospitais fora da Fhemig.

Adoecimento dos trabalhadores


A servidora Lúcia Barcelos apontou que a sobrecarga de trabalho tem aumentado o adoecimento dos trabalhadores e as licenças médicas têm colocado um cenário de maior déficit na escala. Segundo ela, o bloco cirúrgico está funcionando com servidores em exaustão.


(Com informações do Sind-Saúde)

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