Saúde mental: tratar, cuidar e incluir

A rede de atenção psicossocial contempla também dispositivos além da saúde, como as associações de usuários e familiares, residências terapêuticas, centros de convivência e espaços na cidade. Apesar dos avanços, a rede de atenção psicossocial ainda se configura como um desafio dentro do SUS em função dos atravessamentos existentes sobre o assunto.

Definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como estado de bem-estar, onde o indivíduo é capaz de usar suas próprias atividades, se recuperando do estresse cotidiano e ser produtivo e contribuir em sociedade, a saúde mental no Brasil ainda é um desafio do Sistema Único de Saúde (SUS), embora conquistas tenham sido alcançadas ao longo dos 35 anos da “Reforma Psiquiátrica”.

“Aos loucos, o hospício”

 

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Imagem: Google

Somente no século XIX, quando a loucura passou a ser “questão de Estado” no Brasil, que as pessoas com distúrbio de comportamento passaram a receber tratamento. As condições desse tratamento, no entanto, eram totalmente subumanas. Surgiam assim, os manicômios, localizados nos porões das Santas Casas de Misericórdia. Ainda assim, a grande explosão dos hospitais psiquiátricos no Brasil na década de 1960, influenciado pela psiquiatria de setor, na França, as comunidades terapêuticas na Inglaterra e a psiquiatria preventiva, nos Estados Unidos, não humanizavam, de fato, o tratamento. O Movimento antimaniconial, que começaria a questionar sobre a humanização no tratamento de saúde mental e extinguiria os manicômios ganharia forças no fim dos anos 1970. Porém, a busca por um sistema de tratamento mais digno e humano prossegue até os dias atuais, assim como um SUS de qualidade e mais equânime.

“Associação Loucos por Você!” e o pioneirismo

A “Associação Loucos por Você!” foi criada há 19 anos para atuar no acompanhamento de pessoas com transtorno mental favorecendo convívio social e o tratamento coerente com as diretrizes da política de Saúde Mental. Localizada em Ipatinga, no Vale do Aço, associação foi idealizada por Cirlene Ornelas, a partir da busca por um atendimento mais humanitário para o filho, o “Juninho”, que desde criança já apresentava necessidade de atendimento.

“Quando percebi que ele estava mal, não quis interná-lo. Eu queria que ele tivesse acompanhamento da família. Quando buscava alguma alternativa, me recomendavam que procurasse em cidades como Juiz de Fora, Barbacena ou até mesmo em BH. Mas eu queria ter assistência aqui. “  Cirlene Ornelas

 

 

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O pioneirismo de promover a assistência veio antes mesmo da implantação da Política Nacional de Saúde Mental e Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), em 2011, graças ao decreto 7508, que estabeleceu a rede de atenção psicossocial dentro do SUS. Por dia, a entidade recebe em média de 30 pessoas, que realizam atividades como pintura, artesanato, informática, música e outros, além do acompanhamento psicológico e apoio familiar de forma integrada com a RAPS. Hoje, a “Loucos por você” conta com cerca de 100 pessoas inscritas. Cirlene ainda revela que não tinha a pretensão de criar, de fato, uma associação. A necessidade e a falta de acessibilidade para cuidar do filho, falecido há sete anos, a motivou em  realizar pesquisas de como cuidar do filho, além de buscar ajuda perante aos órgãos públicos. “Eu não tinha a ideia de criar uma associação. Eu tinha visto uma reportagem onde dizia que eu teria que vir para BH. Diante disso, procurei o secretário municipal de saúde, que me negou ajuda diante do gasto que seria.” Com a ajuda de um psicólogo, Cirlene passou a participar de algumas ações, chamando famílias e realizando abaixo- assinados e conversando com pessoas sobre a importância da implantação de um CAPS, com a realização de discussões e oficinas, através da mobilização sobre a importância do atendimento e acompanhamento humanitário. Após quatro anos, o CAPS foi implantado na cidade. “Tive o prazer de cuidar do Juninho por 16 anos em liberdade. Agora a luta continua pelos meus que tem transtorno mental e por todos os outros” Hoje, a “Loucos por Você”, conta com a ajuda voluntária para manter as atividades existentes, como oficinas de pintura, artesanato, jogos e outros.

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Sem verba há um ano por falta de repasse da Prefeitura, eventos como seminários são a fonte de arrecadação da instituição. Cirlene relata que conta com a ajuda de estagiários de psicologia para realizar o acompanhamento psicológico junto a profissionais voluntários. “O nosso desafio maior foi e ainda é lidar com o preconceito. O serviço pode e deve procurar pela evolução sempre. Quanto maior a capacitação e humanização, melhor é o serviço. Assim como pacientes comuns, pessoas com transtornos mentais, incluído dependentes químicos, também merecem tratamento digno.“

 

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**Imagens retiradas do Instagram da associação(@loucosporvoce)

Conheça a Associação Loucos por Você

Instagram: @loucosporvoce

Facebook: //www.facebook.com/loucos.porvoce

 

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