29 de agosto: Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Uma entrevista com Bella Ramalho, ex conselheira estadual de saúde de Minas Gerais

No dia 29 de agosto se comemora em todo o Brasil o dia da Visibilidade Lésbica, buscando levar mais informação sobre a luta dessas mulheres e entender um pouco mais de suas necessidades quando falamos sobre controle social, o Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais conversou com Bella Ramalho, ex conselheira estadual de saúde. Bella é militante lésbica pelo Coletivo BIL, que é um coletivo de mulheres lésbicas e bissexuais cis e trans. Ocupou a primeira vaga LGBT disponibilizada pelo CESMG como conselheira estadual de saúde entre os anos de 2015 e 2018, vaga hoje ocupada pela 1ª Diretora de Comunicação Fernanda Coelho, também do Coletivo BIL.

Bella Ramalho. Foto retirada da página do Facebook Coletivo BIL

Vindo de uma família bem religiosa ela conta que se descobriu lésbica muito cedo e teve várias dificuldades para ser aceita e se encontrar principalmente no meio da militância LGBT: “Me descobri lésbica muito cedo, como minha família sempre foi muito religiosa isso se tornou um grande fardo pra mim. Tentei suicídio algumas vezes, mas isso não importava para uma família que apenas quer manter as aparências, fui violentada física e sexualmente por várias vezes enquanto ainda era criança e se estendeu até adolescência, em um lugar onde deveria ser seguro se tornou o meu maior tormento, em casa. Passava a maior parte do tempo na escola ou na igreja, eram os dois lugares que eu poderia ir sem ser questionada, e um dia ouvi falar sobre igrejas inclusivas e resolvi conhecer, foi onde comecei a militar porque mesmo estando em um ambiente “inclusivo” apenas o “G” parecia importar, as outras letrinhas eram totalmente apagadas. Anos depois surgiu o coletivo BIL (Coletivo de Mulheres Bissexuais e Lésbicas) foi então que minha militância se tornou mais intensa. Assumimos o compromisso de empoderar também outras mulheres sejam elas cis ou trans, e de várias orientações sexuais (além de também fazermos várias atividades incluindo todas as identidades LGBT). Mas para mudar a realidade opressora dessas mulheres certamente o primeiro passo é ouvir e entender suas demandas e especificidades. No CES/MG em 2015 foi pela primeira vez disponibilizado vagas para a população LGBT e eu fui a primeira pessoa a ocupar essa vaga representando o Coletivo BIL. Foi algo de grande importância pois para nós a pauta sobre a saúde das pessoas LGBT, em especial das mulheres LBT nos são muito caras.”

Por essa militância mais ativa como a própria citou , ela entrou no Conselho Estadual de Saúde visando lutar pelos direitos das mulheres dentro do controle social. Com isso foi coordenadora da comissão de relatoria da 1ª Conferência Estadual de Saúde da Mulheres de Minas Gerais que aconteceu em 2017, a qual abordou a saúde de mulheres lésbicas e bissexuais entre as propostas discutidas. Entre essas propostas Bella conta que se destacou as dos insumos para prevenção entre o sexo entre mulheres, assunto qual se há bastante desinformação “Como ex conselheira estadual de saúde a pauta que mais me preocupa é a saúde das mulheres lésbicas, pois, temos muita pouca informação e quando há essa informação muitas vezes é equivocada. Temos vários relatos de mulheres lésbicas que foram procurar o atendimento de saúde, principalmente o ginecológico, e é dito para elas que não há a necessidade de fazer exames porque elas não têm relações sexuais com homens, portanto não correm riscos de contraírem doenças e sabemos que esta é uma informação extremamente equivocada. Sabemos que existe a transmissão de várias doenças entre sexo entre mulheres e foi comprovado também em uma pesquisa nos EUA que também o HIV foi transmitido no sexo entre mulheres e isso é muito grave.”

Vemos que o sistema de saúde acaba tomando posturas heteronormativas, como destaca bem nossa entrevistada em sua fala e quando questionado o que é feito para mudar essa realidade ela aponta a Política Nacional de Saúde Integral LGBT que é uma luta do movimento LGBT que ainda esta pendente em implementação, mas que busca enfrentar a heteronormatividade e a cisnormatividade no sistema de saúde público brasileiro.

A luta das mulheres lésbicas não é apenas por sua visibilidade, mas também por direitos básicos que são retirados ao longo de uma socialização machista e lesbofóbica de nossa sociedade moderna, mulheres como Bella Ramalho e todas do Coletivo BIL tentam levar a informação e acolher tantas outras que se encontram em situações que afetam suas qualidade de vida. O Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais apoia a luta dessas mulheres pelo direito de uma saúde que as contemplem, afinal saúde é um direito de todos!

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