CES-MG discute adoecimento dos trabalhadores em Mariana e Brumadinho

Câmara Técnica destacou o quadro epidemiológico dos municípios após o rompimento das barragens e os danos na saúde da população atingida

por Débora Alves (Estagiária de Jornalismo/CES-MG)

Na manhã dessa quarta-feira (27) o Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais (CES-MG), realizou a reunião ampliada da Comissão Intersetorial de Saúde da Trabalhadora e do Trabalhador (CISTT-MG), com o tema “Adoecimentos após acidente de Mariana e Brumadinho: como a SES-MG está acompanhando?”.

A atividade contou com a participação de representantes dos municípios de Belo Horizonte, Itabira, Divinópolis, Pirapora e Congonhas, além do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Geras (COSEMS-MG) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do vice-presidente do CES-MG, Ederson Alves da Silva (CUT-MG) e da 2ª Diretora de Comunicação e Informação, Marília Aparecida Rosário Oliveira Santos (AHFMG/Federassantas).

A abertura da atividade foi feita pelo conselheiro Antônio Pádua (CUT-MG), que destacou a importância de discutir a saúde do trabalhador nos municípios atingidos pela lama do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho.

Sem saúde e em risco

Lourival Andrade, presidente do Instituto Brasileiro de Educação, Integração e Desenvolvimento Social (Rede IBEIDS) falou sobre o ambiente de trabalho nas mineradoras e como ele é controlado e abusivo. “Um dos grandes problemas dos trabalhadores é a falta de informação, que os coloca em risco, tanto físico como psicológico. Isso é um problema histórico, já que a mineração tem dois séculos de mão de obra escrava. O ambiente de trabalho na mineração me preocupa, pois é cabeça baixa e rabo entre as pernas”, afirmou.

O palestrante ainda fez um histórico da mineração em Minas Gerais, destacando que pouco ou nada mudou com a transição da colonização para o capitalismo. “Quem tem 200 anos de escravagismo na mineração não acha que isso desaparece com a modernidade e automatização das empresas de mineração. Há uma cultura de notificações erradas ou não notificações no meio da mineração”, concluiu.

Invisibilidade dos trabalhadores

Marta de Freitas, assessora sindical de Saúde do Trabalho do Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador em Minas Gerais (FSPSSTT/MG), apresentou dados dos desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), considerados pela Organizações das Nações Unidas (ONU) como um crime contra a humanidade. Ela elogiou a ação imediata da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) logo após os rompimentos, mas indagou como estão sendo tratados e onde estão os atingidos por doenças físicas e psicológicas provenientes desses desastres. “A saúde mental dos atingidos merece atenção, já que o consumo de medicamentos controlados são altos nas cidades atingidas. Há uma invisibilidade e falta de assistência aos trabalhadores da mineração que sofrem acidentes de trabalho constantemente”, disse.

Nesse contexto, os presentes questionaram também sobre a saúde da equipe do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e dos demais voluntários que atuaram no resgate das vítimas, tendo contato direto com resíduos de mineração que contém metais pesados.

Danos à saúde mental da população

Representando a SES-MG, por meio da Diretoria de Vigilância de Condições Crônicas, Janaína Passos de Paula, apresentou todo o trabalho que foi realizado pela força-tarefa criada em 2015, logo após o desastre na Barragem do Fundão (Mariana), com vários órgãos do Governo de Minas, já que o desastre foi considerado pela Defesa Civil de nível IV, ou seja, desastre de porte muito grande. “A preocupação inicial foi com a água para consumo humano. E desde o primeiro momento tivemos dificuldade em ter informações por parte das empresas envolvidas. Os dados hora vinham errados, ou mesmo nem chegavam a tempo para gerar nossos relatórios. A partir desse trabalho, criamos um plano de contingência, um protocolo de atendimento, tudo acompanhado pela Diretoria de Saúde do Trabalhador”, explicou.

Janaína ainda destacou que a SES-MG monitora as doenças e agravos relacionados e potencialmente relacionados ao desastre, o Plano de Monitoramento da Qualidade da Água para consumo humano e a formação de parcerias para a melhoria do cenário epidemiológico dos municípios atingidos pela lama. “Temos relatório do aumento das notificações de suicídio na região, em decorrência de agravos na saúde mental dos trabalhadores e população em geral dessas áreas. O número de mulheres que tentam o suicídio é maior, mas os números mostram os maiores números de óbitos estão entre os homens”, finalizou.

Ao final da atividade, o conselheiro Rômulo Luiz Campos (Fetaemg), frisou o descaso com os trabalhadores terceirizados da Vale e que a mineração em Minas Gerais mais empobrece do que gera retorno financeiro, já que o imposto sobre a mineração é muito baixo pelos danos que provoca, na saúde, no meio ambiente, no patrimônio e na vida das populações.

A próxima reunião da CISTT-MG será no dia 16/12, a partir de 09h, no CES-MG, em Belo Horizonte/MG.

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