Iguais, mas diferentes

Com o tema “Desafios para intersetorialidade com equidade”, o ciclo de debates da primeira mesa no segundo dia da CESMu trouxe para as delegadas e delegados uma reflexão sobre a promoção da igualdade de gênero dentro das políticas de saúde já existentes.

A mesa composta pela ativista Diva Moreira, pela historiadora Heliana Hemetério, pela subsecretária de Políticas e Ações da SES-MG, Maria Turci e coordenada pela ativista mundial da Marcha das Mulheres e trabalhadora da SES-MG, Dehonara de Almeida Silveira, abordou os desafios que o Estado tem em relação à promoção da equidade em saúde em Minas.

Diva Moreira, coordenadora no Instituto Pauline Reichstul, apresentou sobre os princípios que promovem uma saúde pública mais humanizada e acessível para alguns grupos, como a população negra. O princípio de equidade nada mais é que a tarefa do Estado em reconhecer que todas e todos têm direito a saúde.

Saúde e População Negra

Diva também apresentou dados que comprovam a diferença no surgimento de algumas doenças entre as populações negra e branca. Uma pesquisa do Portal da Saúde registrou que as seguintes doenças matam mais negros no Brasil:

  • Diabetes – entre 2000 e 2012, a taxa de mortalidade da população negra foi de 34,1% na população negra, enquanto a população branca foi de 22,7%. A população parda foi de 29,1%.
  • Hipertensão arterial – enquanto na população amarela e branca, os índices permaneceram estáveis, a população negra, parda e indígena apresentou aumento no índice em 2012 (32,3 para um grupo de 100 mil habitantes).
  • Doenças Falciformes – que costumam ser hereditárias;

Sobre a humanização dentro do SUS, a ativista ainda comentou que, para mulheres negras, os desafios dentro da assistência a maternidade são mais frequentes.  O Ministério da Saúde, ainda em 2012, já havia apontado que o índice de mulheres negras e pardas que decidem fazer mais de sete consultas de pré-natal é de 55,7% e 54,2%%, respectivamente. Enquanto isso, entre as mulheres brancas, o mesmo índice é de 74,5%.  Sobre esse abismo dentro da saúde, a ativista pontua que o falso mito da democracia racial no Brasil perpassa dentro de todas as categorias, o que inclui os médicos. “O nosso papel enquanto população negra e branca simpatizantes é desconstruir esse papel, porque o atendimento e seletividade em atendimentos são comprovados com esses dados. É algo internalizado”, concluiu.

Equidade e diversidade de gênero

Heliana Hemetério, historiadora especializada em gênero, raça e sexualidade, abordou também que a humanização dentro do SUS inclui também diferentes grupos de gênero e identidade sexual. Desconstruir pensamentos moralistas sobre gênero e sexualidade é também promover equidade. “Bissexuais. Dizem que precisam se definir. Para quem? Para o bem de quem?”, brincou a historiadora, que é negra, mãe, idosa e lésbica. Se tratando da criação de políticas de equidade dentro da saúde, a “violência silenciosa invibiliza as minorias, as exclui”, analisou Heliana.

Números em Minas

Márcia Turci, subsecretária estadual de atenção à saúde, apresentou dados atuais sobre a saúde da mulher no Estado. Em Minas, a principal causa de internação de mulheres no SUS ainda é o parto. “Ainda precisamos muito desconstruir o conceito de que a saúde da mulher se resume a reprodução e o câncer”, questionou Márcia.

Além de apresentar dados sobre a saúde da mulher no Estado, a subsecretária ainda apresentou o diagnóstico sobre o crescimento da sífilis em Minas, sendo registrados 1357 casos só em mulheres gestantes em 2017, em pesquisa publicada na Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Hoje, as seguintes doenças são as que mais matam no Estado:

  • Doenças circulatórias;
  • Doenças do aparelho respiratório;
  • Doenças infecciosas
  • Neoplasias(câncer)

 

Sobre a promoção de saúde pública dentro dos grupos LBT, Marcia aponta que o sistema público de saúde precisa ouvir e se qualificar sobre as demandas dessas pessoas. Para a subsecretária, existe uma presunção de que o atendimento da mulher deve ser igualitário, o que não ocorre. Existe uma presunção de que todas as mulheres são atendidas da mesma forma nos serviços de saúde. “A partir do momento que uma profissional do sexo ou uma mulher trans não são recebidas no serviço de saúde da mesma forma que uma dona de casa, é preciso pensar sobre o cumprimento do princípio da universalidade no SUS”, concluiu.

 

segundo dia

Foto: SES-MG

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