A Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa – MG) realizou o 7º Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineração e a 7ª Jornada Universitária por um Novo Modelo de Mineração.
A edição deste ano teve como marco os dez anos do rompimento/crime da barragem de Fundão e propôs reflexões sobre os impactos da mineração e sobre a construção de alternativas sustentáveis para os territórios atingidos.
Ao longo dos encontros, os participantes foram convidados a discutir temas como políticas públicas para as regiões mineradas, direitos das populações atingidas, reparação ambiental, alternativas econômicas e o papel da pesquisa acadêmica nas transformações sociais.
A presidenta do Conselho Estadual de Saúde (CES/MG), Lourdes Machado, compôs, em 4 de novembro, a Mesa “Congonhas-MG: As violências da mineração extrativista no território”.
“Fiscalizar, acompanhar e monitorar as políticas públicas de saúde nas suas mais diferentes áreas, levando as demandas da população ao poder público, isso é chamado controle social na saúde”, explicou referindo-se à atuação do CES, maior órgão do controle social do Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais.
Também enquanto moradora de Congonhas, Lourdes elucidou que, em meio à expansão desenfreada da mineração, o município abriga uma das maiores barragens de rejeitos do mundo em área urbana: a barragem Casa de Pedra, da CSN. A estrutura armazena cerca de 65 milhões de metros cúbicos de rejeitos e está situada acima de 3 bairros populosos poderiam ser atingidas em caso de rompimento. Caso haja rompimento, há ao menos 3.500 moradores terão, segundo estudos, apenas 30 segundos para se salvarem.
“Na condição de representante CES, digo: nós não podemos mais aceitar isso. Não devemos mais romantizar as nossas feridas em prol do desenvolvimento. Falar de mineração em Minas Gerais é falar da nossa própria identidade. Ela nos trouxe o nome do estado, a riqueza que ergueram igrejas e cidades, o sustento de incontáveis famílias.
Negar essa história seria ‘tapar o sol com a peneira’. Mas, da mesma forma, ignorar o preço que pagamos em saúde, em qualidade de vida, em ar respirável. É uma violência silenciosa que cometem contra nós e contra nossas famílias.
A atividade mineradora, em sua essência, é uma atividade de impacto. Ela transforma a paisagem, consome nossos recursos hídricos e lança na nossa atmosfera uma quantidade brutal de partículas e gases.
Isso não é uma opinião. É um fato técnico, científico. A degradação do solo, a perda de biodiversidade e a poluição do ar são consequências diretas e inevitáveis desse modelo extrativista”, falou.
Poluentes
Em consonância com a afirmação de Lourdes, a professora do departamento de química da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) — que sediou o encontro —, Louise Aparecida Mentes, afirma que “as análises químicas das amostras de poeira de Lobo Leite em Congonhas revelaram a presença de elementos potencialmente tóxicos, como arsênio, bário, cromo, chumbo, níquel, vanádio e zinco. Esses elementos são de particular interesse por estarem associados a riscos à saúde humana e por indicarem possíveis influências de atividades antrópicas, como mineração, na composição da poeira ambiental”.
“O tema da poeira é de extrema importância nas mediações das cidades mineradas, pois também diz respeito ao saneamento básico. Esse conceito envolve condições mínimas de salubridade e qualidade de vida, e infelizmente, em muitos municípios e distritos afetados pela mineração, essas condições não têm sido garantidas.
A poeira carrega substâncias inorgânicas e orgânicas, funcionando como um meio de transporte que atinge diretamente as pessoas. A exposição contínua a compostos e elementos potencialmente tóxicos pode desencadear doenças ou atuar como precursor de problemas crônicos de saúde a longo prazo. O cuidado agora é o que garante saúde no futuro”, elucidou Louise.
Grau de dependência – O lado do trabalhador
Sob outro aspecto, o Secretário-geral do Sindicato METABASE Inconfidentes, Rafael Ribeiro de Ávila, analisou a “dependência” que o país tem historicamente com a mineração. “Enquanto não rompermos com a lógica em nível nacional, não teremos liberdade. Porque não são as comunidades que decidem onde haverá mineração, o tanto que vai produzir. Quem decide isso são os bancos internacionais, tanto na Vale quanto na CSN. Uma relação muito predatória”, alertou.
E ele foi além ao falar do lucro destas empresas: é um grau de exploração predatória tão grande que, em uma hora em média, a empresa ganha tudo o que gastou com o trabalhador. O resto da jornada é apenas ‘lucro atrás de lucro’. Hoje, um trabalhador da mineração ganha basicamente um salário-mínimo, sem nenhum direito a mais, sem segurança, com a saúde em risco.
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