“A covid-19 veio nos mostrar que precisamos de um sistema de saúde robusto”

Em reunião com a Mesa Diretora do CES-MG, o pneumologista Frederico Figueiredo trouxe uma panorama da covid-19 em Minas, destacou a importância do SUS, do isolamento social, uso de máscaras e higiene das mãos, enquanto a vacina não chega

O médico pneumologista Frederico Figueiredo, diretor Assistencial e coordenador da residência em Pneumologia do Hospital Júlia Kubitscheck (HJK), da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), participou na segunda-feira (03/08), da reunião da Mesa Diretora do Conselho Estadual de Saúde (CES-MG), apresentando um panorama de enfrentamento da covid-19 no estado, detalhando os mecanismos da doença, processos de detecção, protocolos de prescrição de medicamentos e imunidade de rebanho.

Dada a riqueza da apresentação feita pelo pneumologista, a Mesa Diretora destacou a importância de levar esse diálogo para mais pessoas de forma direta. A secretária-geral, Lourdes Machado, e as 1ª e 2ª diretoras de Comunicação e Informação do SUS do CES-MG, Fernanda Coelho e Marília Oliveira, reforçaram que a fala do médico oferece segurança e coloca em perspectiva o diálogo com as demais pessoas e com o controle social em saúde.

Para Frederico Figueiredo a sociedade sairá fortalecida, porque a covid-19 está mostrando, fora dos discursos políticos, que não podemos ficar reféns de hospitais privados e filantrópicos. O Sistema Único de Saúde (SUS) possui profissionais altamente qualificados e, segundo ele, nesse caso, a Medicina não tem um custo elevado, porque essas pessoas sabem fazer Medicina de qualidade, com um custo adequado à nossa realidade. “Por isso, acho que temos que sair mais fortes. A covid-19 veio nos mostrar que precisamos de um sistema de saúde robusto que vai desde a atenção básica das UBS até UPAS e hospitais na retaguarda. Eu acredito nisso com total convicção”.

Tratamento e diagnóstico

De acordo com o médico, ainda existem muitas dúvidas da população sobre a covid-19, dentre elas se há algum tratamento para a doença. “Até hoje não existe nenhuma droga aprovada para o tratamento da covid-19. O corticoide foi adotado como uma alternativa terapêutica, que, usado na fase certa, reduz muito a necessidade de respiração mecânica”. Ele ressaltou ainda que várias drogas têm sido testadas, muitas já existentes-0 no mercado.

Destacou também que a covid-19 “é uma doença muito ligada ao sistema imunológico”, e que os exames detectam a presença do vírus no organismo humano, podendo saber se ele vai agravar o quadro clínico da usuária e do usuário. “Pelo hemograma, que é um exame simples, é possível identificar se a doença vai agravar ou não. O teste mais seguro para a identificação do vírus, é o popularmente conhecido como o exame do “cotonete”, mas que, segundo o Frederico Figueiredo, não pode ser feito precocemente, pois, habitualmente, só vai constar positivo a partir do 3º dia de infecção. Em relação aos anticorpos, o IGG é o anticorpo de defesa, só serão perceptíveis nos exames, no início da segunda semana de infecção.

Isolamento social

O vice-presidente do CES-MG, Ederson Alves, perguntou como o médico avalia a retomada das atividades não essenciais e Frederico Figueiredo ressaltou que a flexibilização é uma questão polêmica e tem vários aspectos importantes. Um é a questão de saúde mental causada pelo isolamento, em um período de tempo tão grande; há ainda o aspecto financeiro, pois, o país ainda depende muito do trabalho informal, do comércio, de pessoas que saem para trabalhar todos os dias e que estão impedidas dessas atividades. “Belo Horizonte e Minas Gerais fizeram algumas ações que tiveram custos, mas também benefícios e hoje estamos no pico da pandemia, um platô que não é agudo e o sistema de saúde está dando conta”, enfatizou.

Imunidade de rebanho

Um assunto que tem sido recorrente com o surgimento do novo coronavírus é a imunidade de rebanho. O médico explicou que ela ocorre quando há um grande percentual da população imunizada, e que ao mesmo tempo não atingiu 100% da população. Para que exista essa “imunidade de rebanho” contra a covid-19, é preciso que 80 a 90% das pessoas já tenham sido infectadas. “Como a doença tem uma taxa de mortalidade alta, para a imunidade de rebanho acontecer muitas pessoas tem que morrer. Por isso, é muito importante manter o cuidado com as mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social, até que a vacina chegue”, ressaltou.

Telemedicina

Para evitar o colapso nos hospitais públicos, foi adotado em Minas Gerais o uso da telemedicina. Para Frederico Figueiredo, a telemedicina é imprescindível, de modo que a médica ou médico identifique se a/o paciente possui algum dos fatores de risco para a covid -19, como diabetes ou obesidade, por conta do tratamento. “A telemedicina veio para ajudar nesse momento”. A secretária-geral, Lourdes Machado, destacou que o aplicativo “Saúde Digital MG” precisa ser mais divulgado entre a população.

Ambulatório pós covid-19

Como a covid-19 é uma doença ainda desconhecida, inclusive em relação às sequelas pós tratamento, será necessário modificar e expandir os centros de reabilitação de casos cardiovasculares, renais, pulmonares e neurológicos. O pneumologista cita o exemplo do Hospital Júlia Kubitschek, que já abriu um ambulatório pós-covid, para tratar dessas sequelas, mas ressalta: a telemedicina precisa continuar neste “pós-covid” para ajudar a não sobrecarregar as Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s)



682 total views, 1 views today

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Accessibility